Trama Twill (Sarja)

Tecidos estruturais estão disponíveis numa grande variedade de tramas que possuem diferentes características mecânicas. O tipo de trama que o construtor vai escolher para um determinado projeto interfere na praticidade com que o tecido é impregnado e com a facilidade que ele faz curvas.

Os tecidos de trama twill são identificados pelo tipo de configuração e desenho diagonal. Visto perpendicularmente a aparência do tecido é de uma construção plana diagonal. Apresenta baixa porosidade e boa estabilidade, sendo recomendada para laminações onde seja necessária dupla curvatura. Nesse tipo de trama, um dos lados do tecido conforma melhor do que o outro. O tipo mais simples é construído na trama 2×1, onde dois cabos atravessam um cabo da direção do urdume. Quanto mais cabos usados na direção do urdume, maior vai ser a inclinação diagonal.

Também chamados de sarja, cada fio cruza duas, três, quatro ou mais cabos perpendiculares a este. Esta combinação promove uma estética muito apreciada para ser usada em laminações onde o tecido fica aparente. Se na sua configuração de construção ela cruza apenas duas vezes, a trama é chamada de satin; se ela cruza três ou quatro vezes é deno­minada crowfoot. Se durante a tecelagem os fios passam uns sobre os outros mais que cinco vezes, ela chama-se satinH5.

O construtor deve observar sempre se o tecido que será utilizado tem a mesma quantidade de fios nas duas direções. Isto determina se o tecido é balanceado ou não. Neste tipo de tecido, a abertura entre os cabos é essencial para o resultado final da laminação. Tecidos muito frouxos tendem a abrir buracos durante a laminação, oferecendo ao laminado áreas ricas em resina, o que pode causar deformações e empenos na sua peça.

Compatibilidade entre Fibras e Resinas

Um dos maiores problemas de falhas em laminados de material composto é a ausência de compatibilidade entre fibras e resinas. O problema acontece tanto nos tecidos de fibras de vidro, aramida, híbridos e carbono.

Qualquer fibra é desenvolvida e produzida com um ligante químico, que faz com que a resina de laminação ou infusão consiga colar nos filamentos de tecido. Mesmo que durante o processo de tecelagem das fibras, elas passem por etapas abrasivas que removem parcialmente este acabamento, a fibra muitas vezes segue com sua compatibilidade comprometida. O mais importante neste caso é saber se a fibra que está sendo utilizada tem compatibilidade com a resina que será utilizada, pois nem sempre é o caso.

Mesmo fibras de vidro, que são uma matéria prima muito básica na fabricação de embarcações, podem ter centenas de tratamentos superficiais que melhoram sua adesão, podendo se tornar incompatíveis com resinas específicas. A maior parte das fibras de vidro são tratadas com ligantes químicos para ter compatibilidade com resinas poliéster mas, com o grande uso deste tecido na indústria de fabricação de pás de energia eólica, que utiliza resinas epoxy, muitos tecidos não aderem a resina poliester. O fato mais comum é que os laminados depois de impregnados, manualmente ou por infusão, fiquem esbranquiçados.

O que acontece é que a resina poliéster não consegue “colar” em filamentos de vidro com o tratamento superficial em epoxy. Como a maioria dos construtores sabe, as resinas epoxy conseguem aderir satisfatoriamente sobre laminados de poliéster, mas o contrário não é verdade.

O problema é que muitos construtores de barcos que utilizam resina poliéster, tentando baratear a construção, adquirem, por vezes, sobras de produtos destinados ao mercado de energia eólica resultando em laminados secos e propensos a delaminações, com baixa quantidade de esforço sobre eles.

Normalmente, no processo de infusão um laminado bem impregnado tem somente 35% de resina então, qualquer incompatibilidade entre as fibras e a resina de laminação vai produzir um laminado pobre em resina, com quantidades por vezes abaixo de 20%. Um laminado deste tipo, falha sob cargas de compressão e pode deixar bolhas aparecem através do gelcoat externo. O resultado é a perda total da peça, sendo impossível o reparo.

Por outro lado, quando se trata de fibras de carbono, a grande maioria é produzida com ligantes compatíveis à resina epoxy. Portanto é muito difícil que ocorram falhas de compatibilidade entre tecido e resina.

Resinas estervinílicas possuem proximidade com resinas epoxy, ambas compartilham materiais similares em suas composições. No entanto, não é certo que um laminado produzido com resina estervinílica terá compatibilidade com tecidos fabricados com ligante para resina epoxy.

Ainda existem os casos em que muitos fabricantes de tecido utilizam filamentos de segunda categoria, ou sobras de outros produtos, criando uma fibra com enorme potencial de delaminação nas estruturas. Estas falhas por incompatibilidade entre resina e fibras ocorrem de modo súbito e drástico que, no caso de barcos, pode gerar uma emergência em alto mar. Portanto, na hora de selecionar o tipo de fibra e resina, é preciso saber se ambos têm compatibilidade e se os filamentos serão aderidos uns aos outros pela matriz de resina. Deve-se prestar atenção e dedicar tempo pesquisando sobre seus fornecedores e a procedência dos tecidos que vendem. Comprar tecidos de