Construtores de Barcos Deveriam Ler Shakespeare

Eu tenho pensado bastante sobre o que significa ser um nerd desde que Dr. Ted Seuss introduziu esta palavra em 1950, em um dos seus romances infantis.

O adjetivo Nerd é usado para caracterizar uma pessoa com interesses nos aspectos da ciência, que tende a estar fechado em seu próprio mundo estreito e tecnológico, sempre absorvido em seus próprios problemas complexos, e de difícil compreensão, na maioria das vezes, relacionados com à física e matemática, de modo que ele não consegue se comunicar com o mundo externo. 

Se esta definição estiver correta, então cientistas, engenheiros e nerds, em geral, não deveriam participar de decisões importantes que afetassem uma coletividade.  Durante algum tempo, tenho observado de perto uma tendência nerd na maioria dos engenheiros que trabalham na construção de barcos, e eu suponho que muitos de vocês também. 

Tenho visto também que, muitas vezes, estes mesmos engenheiros ignoram ou rejeitam qualquer outro tipo de ideia que poderia proporcionar a eles habilidades em outras áreas do conhecimento. Em muitos dos meus artigos no Blog do MCB, eu sempre tento mostrar novos ângulos sobre o mesmo problema. Gosto de discutir o comportamento dos materiais e processos construtivos, mostrando as considerações qualitativas de cada variável. Nada é preto ou branco, mas uma infinita matriz de cinzas, onde você pode usar hipóteses que modifiquem a solução do mesmo problema.

Muitos dos assuntos nessas matérias são realmente técnicos, e eu não tenho como negar, e requerem alguma dose de conhecimentos de matemática, cálculo e física, mas também necessitam do entendimento das relações humanas, políticas e econômicas. Engenheiros devem entender de engenharia, mas também devem saber aplicar estes conhecimentos na vida prática. Entretanto, alguns engenheiros acreditam que somente a parte teórica seja suficiente para se “comunicar” com o mundo. Infelizmente, isto é um erro, e é onde eles ficam presos na zona nerd. Outras habilidades são necessárias no mundo real, e todos deveriam ter pelo menos algum conhecimento de finanças, marketing e decisões sobre negócios. 

Mas qual o valor que tem Shakespeare nisso?  Uma das mais óbvias razões a meu ver é que ele foi sem dúvida um dos maiores escritores e criador de expressões que usamos impensadamente todos os dias, tais como – “Isto é grego para mim”.  Shakespeare nos ensina a pensar, porque logicamente pensamos através de palavras, e ele foi um mestre em inventar novas palavras e sentenças que pudessem retratar as emoções humanas e seus conflitos. 

Por exemplo: Hamlet era um estudante e estava preocupado com a reposta de um sério problema, porque não acreditava na informação que recebera sobre a morte de seu pai, o Rei da Dinamarca.  Então, Hamlet decidiu pôr em prática um experimento para verificar a veracidade daquela resposta. No início, ele teve algum sucesso, mas não esperava ter se complicado logo em seguida, assassinando o conselheiro real. Na verdade ele cometeu um tremendo erro e teve que repensar toda a sua estratégia. Finalmente, depois de gastar um tempo longe do problema, conseguiu achar a solução correta. Voltou e a executou com perfeição, mas ironicamente a situação mudou mais uma vez, e sua ação veio tarde demais, causando a sua morte e de toda a sua família. Eu sei que Hamlet não era um engenheiro, mas seu modo de pensar e agir na situação tem muito de relevante com a vida que nós, engenheiros, temos no dia a dia de nossas fábricas. 

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